17 dezembro 2006

Clara, mãe


É o sono. É o medo. É o pânico. São as feridas com crosta e os dedos escamados e as unhas roídas até mais não poder. É o espírito que afinal não é assim tão natalício. É o humor que é tudo menos feliz. É o ano que até é novo mas que mais parece um abismo. É a felicidade a quem a edp cortou a luz. São os suspiros constantes que nem sequer são de açúcar.
São as dores. Das profundas. Das que arranham. Daquelas que nos destroem as ilusões, daquelas que nos fazem gritar. Daquelas que não acreditamos serem possíveis. Daquelas que até nos dão arrepios. Daquelas que ninguém deseja sequer pensar que existem.
É o meu natal.
São as conversas forçadas sobre o tempo e chuva. São os olhares e os sorrisos insidiosos. São as bocas. São as broncas. São os berros que não desejo ouvir, são os berros que tenho de dar. São os conselhos que afinal são todos iguais. São os amigos que afinal até lá estão. Mas que não desejo ver.
É o puto que não se cala e a mãe que o quer roubar. Mo roubar. Porque afinal até é meu. Talvez nem o queira. Mas por agora não interessa.
Por agora nada interessa. Porque entrar no estado vegetal é o que tenho feito. Porque o esquecimento parece a solução para tudo. Porque a mente já nem funciona.
Porque não sou o que toda a gente espera, porque o meu natal não é o que devia ser. Porque afinal, isto é tudo uma grande treta.